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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Tempestade - Gibran

O Pássaro e o homem têm essências diferentes.
O homem vive à sombra de leis e tradições por ele inventadas;
o pássaro vive segundo a lei universal que faz girar os mundos.

Acreditar é uma coisa; viver conforme o que se acredita é outra.
Muitos falam como o mar, mas vivem como os pântanos.
Muitos levantam a cabeça acima dos montes,
porém sua alma jaz nas trevas das cavernas.

A civilização é uma árvore idosa e carcomida,
cujas flores são a cobiça e o engano e cujos frutos
são a infelicidade e a inquietação.

Deus criou os corpos para serem os templos das almas.
Devemos cuidar desses templos para que sejam
dignos da divindade que neles tem morada.

Procurei a solidão para fugir dos homens, de suas leis,
de suas tradições e de seu ruído.
Os endinheirados pensam que o sol e a lua e as estrelas
levantam-se dos seus cofres
e se deitam nos seus bolsos.

Os políticos enchem os olhos dos povos com poeira dourada
e seus ouvidos com falsas promessas.

Os sacerdotes aconselham os outros,
mas não aconselham a si mesmos,
e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos.
Vã é a civilização. E tudo o que está nela é vão.
As descobertas e invenções não são mais que brinquedos,
com a mente se divertindo no seu tédio.

Cortar as distâncias, nivelar as montanhas,
vencer os mares,
tudo isso não passa de aparências enganadoras,
que não alimentam o coração nem elevam a alma.

Quanto a esses quebra-cabeças, chamados ciências e artes,
nada são senão cadeias douradas
com as quais os homens
acorrentam-se, deslumbrados com seu brilho e tilintar.

São os fios da tela que o homem tece
desde o inicio do tempo,
sem saber que, quando terminar sua obra,
terá construído a prisão
dentro da qual ficará preso.

Uma coisa só merece nosso amor
e nossa dedicação,
uma coisa só...

É o despertar de algo
no fundo dos fundos da alma.
Quem o sente,
não o pode expressar em palavras.
E quem não o sente,
não poderá nunca o conhecer por palavras.
Faço votos para que aprendas
a amar as tempestades
em vez de fugir delas.


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